Porto . 2015-2017
Habitação . 370m2
A Casa de Costa Cabral é um exemplo claro de como a arquitectura se vai ajustando às necessidades de cada tempo. Construída originalmente em 1926 para habitação unifamiliar, e inspirada certamente na arquitectura de Raul Lino, sofreu alterações interiores e exteriores, ainda que pontuais, nos anos 50 e foi, posteriormente, em 2000, adaptada para uma instituição de ensino de forma mais intrusiva e descontextualizada.
Construída num lote estreito e comprido de gaveto, numa das ruas mais movimentadas do Porto, soube dar resposta às necessidades de privacidade dos proprietários e, ao mesmo tempo, relacionar-se com a cidade, através da criação de dois acessos distintos. A casa afasta-se da rua, criando um percurso perimetral e permitindo a criação de quatro frentes. No lado menos movimentado é criado ainda um espaço de logradouro mais privado.
Quando os actuais clientes a compraram, a casa era uma mistura de estilos e de espaços que a descaracterizavam e que tornavam difícil a percepção do seu potencial. Foi apenas após a análise e o estudo cuidado das diversas sobreposições que se tornou claro o caminho a percorrer pela arquitectura.
Originalmente, a casa assumia uma separação clara entre o piso térreo e o primeiro piso, onde o piso térreo era assumidamente uma zona de serviços e o primeiro piso albergava as zonas sociais e privadas da casa. Nos anos 50, com a introdução de uma nova escada em betão armado, a relação entre os dois pisos foi estreitada, passando o piso térreo a ser utilizado também para funções sociais. Actualmente, não havia distinção entre os dois pisos, sendo que ambos albergavam salas de aulas e instalações sanitárias.
Pretendia-se agora adaptar os espaços às exigências e necessidades específicas dos clientes, tendo em conta a reposição do uso original - habitação unifamiliar, e as diversas alterações sobrepostas. Nesse sentido, optou-se por instalar os espaços sociais da casa no piso térreo, libertando o primeiro piso para os quartos e biblioteca. Para além desta separação entre os pisos, a casa estabelecia um corte no sentido longitudinal em ambos os pisos, que definia um eixo visual e que permitia uma separação clara de funções. Esta zona, assumidamente longitudinal, sofreu mais intervenção por ter sido mais intervencionada e adulterada nos anos 2000, e passou a albergar os espaços de serviço e as instalações sanitárias, tanto no piso térreo, como no primeiro piso, concentrando as áreas húmidas e libertando as restantes zonas da presença das infra-estruturas hidráulicas.
Os elementos estruturais e construtivos, em particular as carpintarias interiores e exteriores, foram preservadas e reabilitadas, tendo em conta esta sobreposição de tempos e estilos. Nesse sentido, tirou-se partido destas diferenças, assumindo materiais e acabamentos diferentes nos dois pisos, como forma de preservação da memória de separação clara entre pisos, característica do projecto original. As fachadas foram reabilitadas, preservando o seu valor patrimonial. A imponente escada de betão armado foi também reabilitada, continuando a enriquecer a zona central da casa com a sua presença.
Num edifício marcado pela soma de intervenções de diferentes épocas, a pesquisa histórica, seguida de uma análise cuidada dos vários elementos construtivos permitiram preservar um conjunto construtivo de grande valor patrimonial, valorizando os elementos construtivos do edifício, tanto os originais como os adquiridos em intervenções posteriores. Tudo isto, garantindo, em simultâneo, uma melhoria das condições de utilização e de conforto do edifício, condição fundamental para os clientes.
Arquitectura: Joana Leandro Vasconcelos. Colab: Alba Gil Taboada e Luísa Paiva
Especialidades: NCREP - Consultoria em Reabilitação do Edificado e Património, Lda
Construção: Smeaton - Engenharia e Construção, Lda
Fotografia: José Campos, Architectural Photography